sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Governo dá ao pré-sal o mesmo peso político atribuído pelos grandes produtores
A questão menos considerada pelos críticos do dirigismo do modelo de exploração do pré-sal foi o pano de fundo da decisão do governo de avocar para o Estado o controle sobre o que se estima seja uma das últimas grandes reservas recuperáveis de petróleo no mundo.
O governo atribuiu às descobertas do pré-sal na Bacia de Santos o mesmo peso político, com desdobramentos geoestratégicos, conferido ao petróleo por outros grandes detentores de reservas no mundo.
Mas, de algum modo, também pelos maiores consumidores, como EUA e China - além disso, primeiro e segundo no ranking dos emissores de carbono. Segurança energética é o foco, com ações para assegurar o suprimento, e novas fontes de energia não só por razão ambiental.
Para a China, potência política em expansão na cena global, tendo ascendido ao status de potência econômica, trata-se de garantir os suprimentos de óleo onde quer que seja. Negocia com qualquer um.
O governo chinês firmou acordos de fornecimento com a Venezuela e o Irã, tornou-se o maior investidor em Angola, cuja produção é crescente, e adiantou US$ 10 bilhões à Petrobras contra a remessa de 150 mil barris/dia no primeiro ano e 200 mil nos outros nove. A Petrobras espera dobrar o compromisso com os chineses.
Para os EUA, o governo de Barack Obama assumiu explicitando como prioridade máxima a independência energética por razões políticas.
Desde que a economia afundou em recessão, o programa ganhou também a ambição de renascimento industrial e repatriamento de capitais.
O objetivo é reduzir os pesados gastos com petróleo comprado de países hostis, sem o qual a balança comercial seria superavitária, e viabilizar uma ruptura tecnológica, a partir de novas energias, que possa restabelecer o domínio dos EUA sobre a economia global.
Algo como a internet e a tecnologia da informação foram nos anos 90. O carro elétrico é uma dessas apostas, com aspiração de tirar o pó do encardido plano de negócios da indústria automotiva.
O que chama atenção nestes movimentos de bilhões de dólares em pesquisas e investimento é a aderência da China. Ela acompanha passo a passo a estratégia disruptiva dos EUA, e o faz até como parceira.
Mistérios da produção
A embalar tais minuetos está outro movimento. O mercado encurtou pelo lado da oferta, seja pelo cancelamento dos investimentos em exploração na maioria dos países produtores, boa parte tocada por regimes autoritários, seja pelo desinteresse e receio das empresas petroleiras em aportar recursos em regiões instáveis.
Elas o fazem em nível regulado pela demanda, influindo sobre os preços, o que lhes favorece e aos produtores, mas sem se comprometer em demasia. Nigéria, Venezuela e Irã, entre outros, têm sido os mais afetados.
A produção mundial de petróleo, como diz Niels Jensen - diretor do Absolute Return, firma inglesa de gestão de fundos, e analista respeitado entre os economistas do primeiro time -, tem se mantido estável entre 80 e 82 milhões de barris/dia desde o início da alta dos preços em 2004.
O normal, segundo Jensen, seria que a produção crescesse, acompanhando a alta de preços. “A pergunta fundamental, portanto, é por que eles não elevaram a produção”, questiona.
Escassez vai até 2030
O modelo estatizante do pré-sal, neste contexto, pode aproveitar-se de uma oferta global relativamente escassa, que deve estender-se até 2030, na previsão do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
O modelo se assenta na premissa de que pode prescindir dos capitais privados em grande escala, amparando-se no conceito de qualidade que a Petrobras angariou nos mercados financeiros.
Assim foi até antes da crise do crédito e a vigência do regime de concessão, o que a reforma da Lei do Petróleo torna caduco para o pré-sal. Parte de sua necessidade de capital desde então tem vindo de bancos públicos. A conferir como será para frente.
Petróleo & diplomacia
O substrato do cenário do petróleo no mundo sugere que o mercado, como diz Gabrielli, é só um dos dados da equação. Para ele, é um “equívoco” supor que o livre mercado define as decisões sobre onde investir nesse ramo. Os “aspectos geopolíticos”, conforme opinião da ministra Dilma Rousseff, é que seriam decisivos.
É daí que vem a idéia da Petrosal: mais para controlar os contratos de partilha e negociar acordos de exportação, como o fechado com a China, que para ficar em cima dos custos de produção.
A ser assim a tendência é que a transparência equivalha à opacidade do mercado de petróleo e se confunda com a política externa do país. Voltaremos ao tema.
Conspirações e ficção
Num mercado em que 80% da produção pertencem a países de governos autoritários e suas reservas há anos não são auditadas, o ambiente se torna propício a teorias conspiratórias, difundidas pela ficção hollywoodiana, e teses respeitáveis, embora sem comprovação, como do “Peak Oil”, segundo a qual o esgotamento do petróleo no mundo é uma tendência.
Para uns já começou. Outros o projetam para 2015 em diante. O pré-sal seria das últimas gotas. Supostas reservas, como do Ártico, implicam grave risco ambiental, ou só se viabilizam com preços acima de US$ 150. Certamente, ninguém sabe o que é certo.
Por: Antonio Machado
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