O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou nesta quinta-feira (17) que o país abandonou o projeto de um grande escudo de defesa antimísseis no leste da Europa. Ao mesmo tempo, ele prometeu um sistema de defesa mais forte e ágil para proteger os EUA e seus aliados de qualquer ameaça do Irã.
Em um pronunciamento breve, Obama disse que estava desistindo do plano de basear mísseis de defesa na Polônia e de construir um sistema de radar na República Tcheca. O movimento, segundo analistas, deve diminuir as tensões com a Rússia. Mas também alimentar receios regionais sobre o ressurgimento da influência do Kremlin.
"A melhor maneira de avançar responsavelmente na questão de nossa segurança e na segurança de nossos aliados é criar um sistema de defesa de mísseis que melhor responda às ameaças que enfrentamos e que use tecnologia que prove ser eficiente e barata", disse.
A melhor maneira de promover de maneira responsável nossa segurança e a segurança de nossos aliados é instalar um sistema de defesa antimísseis que responda melhor às ameaças que enfrentamos e que faça uso de tecnologia comprovada e com boa relação custo-benefício," disse Obama.
Em entrevista coletiva no Pentágono, depois do anúncio de Obama, o secretário da Defesa, Robert Gates, disse que a decisão se deveu a uma mudança na percepção da ameaça representada pelo Irã.
Gates disse que os serviços de inteligência consideram que os mísseis de curto e médio alcance do Irã representam uma ameaça maior do que seus mísseis intercontinentais.
Os primeiros "estão se desenvolvendo mais rapidamente do que se tinha previsto a princípio", segundo os serviços de inteligência, disse Gates.
Por outro lado, os mísseis de longo alcance "não representam a ameaça que se tinha imaginado inicialmente", acrescentou.
Em lugar do sistema previsto até agora, Gates disse que "teremos a oportunidade de colocar novos sensores no norte e no leste da Europa".
Precisamente, disse, os Estados Unidos preveem agora posicionar até 2015 na Polônia e na República Tcheca interceptores SM-3, concebidos para destruir mísseis de curto e médio alcance.
Moscou celebra
Moscou disse que saúda a decisão de descartar os planos, que vinham complicando os esforços dos EUA para conseguir o apoio da Rússia com relação ao Afeganistão, Irã e o controle de armas nucleares.
Mas críticos se apressaram a acusar a Casa Branca a agir sem firmeza no setor de defesa ao desistir do projeto, que suscitara esperanças de contratos de valores altíssimos para grandes empresas americanas do setor da defesa.
O senador e ex-candidato presidencial republicano John McCain criticou a iniciativa, que qualificou como "seriamente equivocada."
A administração Bush tinha proposto a construção do escudo antimísseis, em meio a temores de que o Irã estaria tentando desenvolver ogivas nucleares que poderia montar sobre mísseis de longo alcance.
Ameaça reavaliada
A intenção era que o escudo servisse de defesa contra possíveis mísseis de longo alcance lançados por Estados "irresponsáveis" como Irã e Coreia do Norte. A Rússia o via como ameaça a suas defesas antimísseis e sua segurança geral.
Os Estados do leste europeu, especialmente a Polônia e os países bálticos, viam o escudo antimísseis como símbolo do compromisso dos EUA com a defesa da região contra qualquer avanço da Rússia, 20 anos após o fim do governo comunista.
Obama informou aos governos tcheco e polonês de sua decisão horas antes do anúncio, disseram autoridades.
Funcionários do Pentágono disseram que a decisão de desistir do escudo foi tomada com base em informações da inteligência indicando que o Irã quer desenvolver mísseis de curto e médio alcance, e não os mísseis intercontinentais de longo alcance inicialmente temidos.
O futuro dos planos de defesa antimísseis americanos envolvem contratos de muitos bilhões de dólares.
A Boeing, segunda maior fornecedora de equipamentos ao Pentágono, anunciou no mês passado uma proposta para construir um míssil interceptor móvel, visando reduzir os temores da Rússia em relação a pontos americanos fixos na Europa. A Boeing também cogitava em construir um interceptor de 21.500 quilos que poderia ser levado às bases da Otan por via aérea, conforme a necessidade.
Histórico
A administração Bush havia dito que o projeto antimísseis era uma estratégia importante para conter a ameaça iraniana ou de outra nação do Oriente Médio. A ideia sempre desagradou aos russos, que nunca aceitaram bem a possibilidade de ter interceptadores tão perto de seu país.
O governo Obama busca "reiniciar" suas relações com a Rússia, para que os dois ex-inimigos da Guerra Fria possam cooperar em questões como o fim do programa nuclear do Irã, o combate ao Taliban no Afeganistão e a redução de seus arsenais nucleares.
Repercussão
A chanceler alemã Angela Merkel saudou a decisão e a classificou de "sinal de esperança" para se aproximar da Rússia.
"Considero que a decisão deste dia é um sinal de esperança" que pode contribuir para "superar as dificuldades com a Rússia", declarou Merkel à imprensa, ao chegar a uma reunião de dirigentes da União Europeia (UE) às vésperas da cúpula do G20 de Pitsburgh.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, assegurou que apoia "totalmente" a decisão dos Estados Unidos.
"Apoio totalmente a decisão tomada pelo presidente (Barack) Obama hoje", declarou em uma entrevista coletiva à imprensa durante a cúpula de chefes de Estado e de Governo em Bruxelas.
O primeiro-ministro polonês e o presidente tcheco comentaram a decisão dos Estados Unidos, e se mostraram otimistas em relação à segurança de seus Estados e ao futuro de suas relações com Washington.
Mas algumas personalidades políticas polonesas e tchecas reagiram decepcionadas.
"Se isso se confirmar, será um fracasso do pensamento de longo prazo do governo norte-americano nesta parte da Europa", declarou à rede TVN24 Aleksander Szczyglo, chefe da gabinete para a segurança nacional da Presidência polonesa.
FONTE: G1 Noticias
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